segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Editorial “Epa-Hey, Oyá!” (Umbanda)






Editorial “Epa-Hey, Oyá!” (Umbanda)

Foi uma decisão difícil e um grande desafio elaborar esse projeto sozinha.
Umbandista de coração, apaixonada por orixás e cansada de ouvir por aí que é tudo "macumba", no sentido pejorativo da palavra, não acreditava que poderia encontrar um grupo disposto a trabalhar um tema tão polêmico e que sofre tanto preconceito como essa religião.
Apesar de sentir certa resistência e falta de credibilidade por parte da Jô, fui em frente. Com a cara e a coragem e por minha própria conta e risco.
Fui teimosa e orgulhosa. Mantive desde o começo a idéia de trabalhar com “modelos-não-modelos”, gente comum, que a gente encontra sentada do nosso lado no ônibus das sete da manhã a caminho do trabalho.
O fotógrafo já estava escolhido desde o começo. Grande amigo e namorado paciente, o Anselmo acompanhou todo o processo desde o início.
Depois de alguns e-mails trocados com a Jô, a mudança da idéia inicial, mais algumas pequenas alterações aqui e ali, chega a hora de montar uma equipe pra elaboração final.
Dividi com dois grandes amigos as tarefas de produção. O Diego ficaria como assistente de fotografia, a Dani como maquiadora.
Em parceria com as meninas da Educafro, uma ONG que foca justamente na divulgação da cultura negra contra o preconceito, escolhi as minhas “modelos”.
As irmãs Daniela e Maria, e a mãe delas Loide. Gente simples, simpática e que transmitiam exatamente o que eu desejava: VIDA!
A timidez no começo das fotos, a descontração, os sorrisos.
Foram vários telefonemas entre eu e a Daniela, combinando o dia final. O que levar, o que fazer, como fazer, passando a idéia do projeto, a intenção.
Dois dias antes do dia marcado para as fotos, encarreguei meu super-pai de ir atrás dos tecidos que usaria para os mantos.
Chega então o dia.
Na parte da manhã, toca correr atrás de flores. Gerânios amarelos, rosas vermelhas. E o super-pai pra cima e pra baixo comigo, sem entender nada do que estava acontecendo, mas sempre ali.
Telefonemas. É o assistente de fotografia que dormiu demais e vai chegar atrasado, a maquiadora que tem reunião com o grupo da pós-graduação e vai demorar um pouquinho a mais. Começa a doer o estômago, a sensação de que tudo vai dar errado.
E lá está o super-pai de novo. Pega o carro, abastece e lá vamos nós da zona leste pra zona oeste, com o carro cheio de flores. Aquele sol insuportável, aquele cheiro enjoativo das flores dentro do carro.
Primeira parada, SENAC Tito, pegar a maleta de maquiagem com a Danielle pra poder adiantar alguma coisa enquanto ela termina a reunião da pós. Meia-hora de espera pareceu uma eternidade debaixo daquele sol.
Parada final, SENAC Scipião, onde fora reservado o estúdio para as fotos. Descarregar as flores, colocar num cantinho com sombra, colocar um pouco de água e esperar.
O Diego chega surpreendentemente no horário, todo esbaforido, porém no horário.
Assim que o Anselmo e as modelos chegam, já podemos começar a arrumar a parafernália toda no estúdio.
Enquanto ele e o Diego arrumam as tochas, os flashes e o fundo infinito, eu me desdobro entre adiantar a maquiagem e preparar as flores.
A Dani chega atrasada milagrosos cinco minutos.
Aí sim começa o trabalho.
Cortar flores, arrumar flores, maquiar cada uma com as cores específicas, estudar storyboard junto com as modelos e com o fotógrafo, amarrar tecidos, ensaiar poses, tudo isso sendo registrado pelo Diego e sua câmera.
E assim segue a nossa tarde. Corrida, divertida e produtiva.
No fim, aquela sensação de dever cumprido. Ou meio-cumprido. Ainda faltava a edição final, mas a sensação de alívio ao ver uns 80% do caminho percorrido era gratificante.
Depois de ter desanimado tantas vezes, pensado em desistir tantas outras, olhar todas aquelas fotos, das modelos, do making-off, mesmo pelo visorzinho das câmeras, era gratificante.
Nosso almoço-jantar (já eram quase seis horas da tarde) foi no Shopping Lapa. Eu me sentia mais leve. E olhava aqueles rostos tão conhecidos, tão queridos e que tinham me ajudado do começo ao fim, com todo o amor do mundo.
Hoje, olhando as fotos sendo editadas, saturando cores, arrumando fundos, vejo que consegui o que queria. Um trabalho simples, com gente simples, mostrando uma beleza simples. Porém concreto. Real. Vivo.

Agradeço sempre e infinitamente ao meu pai. O super-pai, que correu pra cima e pra baixo fazendo o que eu pedia, sem nem saber do que se tratava ou pra que era, mas estava ali, reclamando, brigando, mas ali. Ao Diego e sua paixão pela fotografia, à qual eu me permito me sentir um pouco culpada. Um amigo incrível, solícito e profissional, que mesmo sem nunca ter presenciado nada ligado à moda, pegou o espírito da coisa em poucos minutos. À Dani, amiga de tantos e tantos anos e sempre alguém com quem pude contar. Maquiadora séria, simples e eficiente, como tudo que eu precisava. Ao Anselmo, sempre muito querido como amigo e namorado, fotógrafo maravilhoso e que conseguiu deixar não só as modelos, como toda a equipe sempre muito á vontade. Ele foi sem dúvida o grande responsável pela realização desse trabalho.
E, claro, Daniela, Maria e Loide. Meninas simples, fofas, simpáticas e que sem elas, eu não teria conseguido o que tanto almejava. A personificação de um dos meus orixás favoritos como uma pessoa comum.

Epa-Hey, Oyá!
Saravá, Umbanda!

E que assim, as pessoas possam abrir os olhos para enxergar mais belezas e menos preconceitos.

Nenhum comentário: